Texto Reflexivo.





Opinião: Além do vestibular, jovem deve definir qual caminho quer trilhar
Escolas focam na prova esquecem de ajudar aluno a definir a carreira.
Término do ensino médio representa uma mudança importante na vida.

Ana Cássia Maturano Especial para o G1, em São Paulo

Ilustração vestibular (Foto: Editoria de Arte/G1)
Algumas coisas na vida funcionam como um marco. Fazer sete anos de idade é uma delas. Antigamente era associado à entrada formal na escola. O que já não acontece mais. Mesmo assim, atingir essa idade parece conferir a criança um status diferente, possibilitando-lhe fazer coisas que antes não era possível (mesmo que isso seja ilusório – talvez, antes, fosse aprender a ler e a escrever).
A vida vai sendo pautada por eventos que vão marcando o avanço no tempo e indicando uma mudança na maturidade das pessoas, ao menos em seu papel social. Às vezes, de tão desejados, parecem que vão demorar muito para chegar. Dando uma ideia de tempo longo e de algo que pode ser deixado para depois.
Até que um belo dia, ao acordar, percebe-se que se está no final do ensino médio, em meados do mês de agosto, prestes a preencher as inscrições dos vestibulares. Aquilo que era distante, não demorou a chegar. Causando misto de frisson e medo.
Ora – dirão muitos – qual o problema? A garotada está se preparando há no mínimo três anos para fazer tão temida prova: muitas aulas, provas, simulados (incluindo de vestibulares passados), discussões de temas da atualidade, leituras de livros propostos... e tantos outros recursos que os colégios têm buscado para dar um bom suporte aos alunos para terem um bom preparo. Tanto assim, que a impressão é que o único objetivo deles é o vestibular.
Só o que a escola oferece não basta. É necessário que haja envolvimento e compromisso do aluno para com o estudo. E como ele deseja passar. Estudou muito para isso e é o que os jovens de sua idade devem fazer quando terminam o ensino médio. E por que tanta angústia?
Ela reside no que significa o vestibular. Não é só fazer uma prova. Significa sair de um caminho pré-estabelecido pela nossa sociedade – pré-escola, ensino fundamental e médio – e começar a trilhar trajeto próprio, com direção menos determinada, que dependerá mais de cada um.
Significa ter que, num momento de grande imaturidade, já escolher uma direção. Sendo que, de tão preocupadas com a prova (que serve de marketing para atrair futuros alunos de acordo com os índices de aprovação), as escolas se esquecem de ajudar seus alunos a amadurecerem a idéia de qual profissão seguir. Deixam de lado o preparo para a vida. A vida concreta e real.
Caso os alunos terminem o ensino médio e por algum motivo tiverem que se virar na vida, trabalhar mesmo, pouca chance terão. Ao menos inicialmente. Eles apenas foram treinados para fazerem a prova. Como se ela fosse um fim em si mesmo. O vestibular deixa de ser uma ponte para seguir um rumo ou planejar o futuro.
É necessário que os estudantes tenham um espaço que informe as diferentes profissões que existem (que os guias ajudam inicialmente), mas que também permita que medos, incertezas e inseguranças possam ser olhados e trabalhados. Onde o futuro seja encarado para além do vestibular.
No final das contas, a ideia de formação integral do aluno, vendida por muitas instituições educacionais, não vai muito além de ensinar a reciclar o lixo. O que é fundamental.
Assim como é fundamental que a escola prepare seus alunos para prestarem o vestibular, mas também para se virarem na vida.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)